16 julho 2011

Mobiliário de Além Túmulo

Revista Espírita, agosto de 1859
Extraímos a passagem seguinte de uma carta que nos foi endereçada do departamento do
Jura, por um dos correspondentes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:
"... Eu vos disse, Senhor, que a nossa antiga habitação era amada pelos Espíritos. No mês de
outubro último (1858), a senhora condessa de C., amiga íntima de minha filha, veio passar
alguns dias em nosso solar com seu filhinho, de oito anos de idade. Deitou-se a criança no
mesmo apartamento de sua mãe; a porta que dava de seu quarto para o de minha filha foi
deixada aberta para poder prolongar as horas do dia e conversar. A criança não dormia, e
dizia à sua mãe: "Que faz, pois, esse homem sentado ao pé de vossa cama? Ele fuma um
grande cachimbo; vede como ele enche vosso quarto de fumaça; portanto, mandai-o
embora; ele sacode vossas cortinas." Essa visão durou toda a noite; a mãe não pôde fazer a
criança calar, e ninguém pôde fechar os olhos. Essa circunstância não espantou nem a minha
filha e nem a mim, que sabemos o que ocorre nas manifestações espíritas; quanto à sua
mãe, ela acreditava que seu filho sonhava acordado, ou se divertia.
"Eis um outro fato, que me é pessoal, e que me ocorreu nesse mesmo apartamento, no mês
de maio de 1858; foi a aparição do Espírito de um vivo, que ficou muito espantado depois de
ter me visitado; eis em que circunstância: Eu estava muito doente e não dormia há muito
tempo, quando vi, às dez horas da noite, um amigo de minha família sentado perto da minha
cama. Testemunhei-lhe minha surpresa pela sua visita a essa hora. Ele me disse: Não faleis,
vim velar-vos; não faleis, é necessário que possais dormir;" e estendeu a sua mão sobre a
minha fronte. Várias vezes reabri os olhos para ver se estava ali ainda, e cada vez me fazia
sinal para fechá-los e calar-me. Ele rolava sua tabaqueira em seus dedos e, de tempo em
tempo, tomava uma pitada, como tinha hábito de fazê-lo. Adormeci, enfim, e no meu
despertar a visão havia desaparecido. Diferentes circunstâncias me deram a prova de que, no
momento dessa visita inesperada eu estava perfeitamente desperto e que isso não fora um
sonho. Em sua primeira visita, apressei-me em agradecer-lhe; ele levava a mesma
tabaqueira, e escutando-me, tinha o mesmo sorriso de bondade que eu notara nele enquanto
me velava. Como ele me afirmou que não viera, o que de resto não tive dificuldade em crer,
porque não houvera nenhum motivo que pudesse convidá-lo a vir em semelhante hora e a
passar a noite junto a mim, compreendi que só seu Espírito não se dera conta da visita,
enquanto seu corpo repousava tranqüilamente em sua casa."
Os fatos de aparição são de tal modo numerosos, que nos seria impossível registrar todos
aqueles que conhecemos e dos quais temos fontes perfeitamente autênticas. De resto, hoje
quando esses fatos são explicados, quando se dá conta exatamente do modo que se
produzem, sabe-se que entram nas leis da Natureza e, desde então, nada têm mais de
maravilhosos. Já demos deles a teoria completa, não faremos senão lembrá-la, em poucas
palavras, para compreensão do que vai seguir-se.
Sabe-se que além do envoltório exterior, o Espírito tem um segundo, semi-material, que
chamamos perispírito. A morte não é senão a destruição do primeiro. O Espírito, em seu
estado errante, conserva o perispírito que constitui uma espécie de corpo etéreo, invisível
para nós no estado normal. Os Espíritos povoam o espaço, e se, num momento dado, o véu
que no-los oculta viesse a se levantar, veríamos uma inumerável população se agitar ao
nosso redor e percorrer os ares; vê-la-íamos, sem cessar, aos nossos lados observando-nos
e, freqüentemente, misturando-se às nossas ocupações e aos nossos prazeres, segundo o
seu caráter. A invisibilidade não é uma propriedade absoluta dos Espíritos; a miúdo, se nos
mostram sob a aparência que tiveram em sua vida, e existem poucas pessoas que, evocando
suas lembranças, não têm o conhecimento de algum fato desse gênero. A teoria dessas
aparições é muito simples e se explica por uma comparação que nos é muito familiar, a do
vapor que, quanto está muito rarefeito, é completamente invisível; um primeiro grau de
condensação torna-o enevoado; quanto mais condensado passa ao estado líquido, depois ao
estado sólido. Opera-se alguma coisa análoga pela vontade do Espírito na substância do
perispírito; isso não é, de resto, como dissemos, senão uma comparação e não uma
assimilação que pretendêssemos estabelecer; servimo-nos do exemplo do vapor pata mostrar
as mudanças de aspecto que pode sofrer um corpo invisível, mas com isso não inferimos que
haja no perispírito uma condensação, no sentido próprio da palavra. Opera-se, em sua
contextura, uma modificação molecular que o torna visível e mesmo tangível, e pode dar-lhe,
até um certo ponto, as propriedades dos corpos sólidos. Sabemos que corpos perfeitamente
transparentes tornam-se opacos por uma simples mudança na posição das moléculas, ou pela
adição de um outro corpo igualmente transparente. Não sabemos exatamente como opera o
Espírito para tornar visível seu corpo etéreo; a maioria mesmo, entre eles, disso não se dá
conta, mas, pelos exemplos que citamos, concebemos sua possibilidade física, e isso basta
para tirar, desse fenômeno, o que haja de sobrenatural à primeira vista. O Espírito pode,
pois, operá-lo, seja por uma simples modificação íntima, seja assimilando uma porção de
fluido estranho que muda momentaneamente o aspecto de seu perispírito; essa última
hipótese é mesmo a que ressalta das explicações que nos foram dadas, e que relatamos ao
tratar desse assunto. (Maio, junho e dezembro.)
Até aqui não há nenhuma dificuldade no que concerne à personalidade do Espírito, mas
sabemos que ele se apresenta com vestimentas das quais muda o aspecto à vontade;
freqüentemente mesmo, têm certos acessórios de toucador, tais como jóias, etc. Nas duas
aparições que citamos no começo, uma tinha um cachimbo e produzia a sua fumaça; a outra
tinha uma tabaqueira e portava-a; e notai bem o fato que esse Espírito era o de uma pessoa
viva, que sua tabaqueira era em tudo semelhante àquela da qual se servia habitualmente e
que ficara em sua casa. O que são essa tabaqueira, esse cachimbo, essas vestimentas, essas
jóias? Os objetos materiais que existem sobre a Terra teriam sua representação etérea no
mundo invisível? A matéria condensada que forma esses objetos teria uma parte
quintessenciada que escapa aos nossos sentidos? Aí está um imenso problema, cuja solução
pode dar a chave de uma multidão de coisas até agora inexplicadas, e foi a tabaqueira em
questão que nos colocou no caminho não só desse fato, mas do fenômeno mais
extraordinário do Espiritismo: o da pneumatografia ou escrita direta, do qual falaremos a
todo instante.
Se alguns críticos nos censuram ainda pelo fato de irmos muito antes na teoria, dir-lhesemos
que, quando encontramos uma ocasião de avançar, não vemos porque seríamos
obrigados a permanecer atrás. Se estão ainda no ponto de ver girar as mesas sem saberem
porque elas giram, isso não é uma razão para deter-nos no caminho. O Espiritismo é, sem
dúvida, uma ciência de observação, mas é mais ainda, talvez, uma ciência de raciocínio; o
raciocínio é o único meio de fazê-lo avançar e triunfar de certas resistências. Tal fato é
contestado unicamente porque não é compreendido; a explicação lhe tira todo o caráter
maravilhoso e o fato reentra nas leis gerais da Natureza Eis porque vemos, todos os dias,
pessoas que nada viram e que crêem, unicamente porque compreendem; ao passo que
outras viram e não crêem, porque não compreendem. Fazendo o Espiritismo entrar na via do
raciocínio, tornamo-lo aceitável para aqueles que querem dar-se conta do por quê e do como
de cada coisa, e seu número é grande neste século, porque a crença cega não está mais nos
nossos costumes; ora, não fizéssemos senão indicar o caminho, teríamos a consciência de
haver contribuído para o progresso desta ciência nova, objeto de nossos estudos constantes.
Voltemos à nossa tabaqueira.
Todas as teorias que demos, com relação ao Espiritismo, nos foram fornecidas pelos
Espíritos, e, muito freqüentemente, contrariaram as nossas próprias idéias, como isso
ocorreu no caso presente, prova que as respostas não eram o reflexo do nosso pensamento.
Mas o meio de obter uma solução não é coisa indiferente; sabemos, por experiência, que não
basta pedir bruscamente uma coisa para obtê-la; as respostas não são sempre
suficientemente explícitas; é necessário pedir o desenvolvimento com certas precauções,
chegar ao objetivo gradualmente e pelo encadeamento de deduções que necessitam um
trabalho preliminar. Em princípio, o modo de formular as perguntas, a ordem, o método e a
clareza são coisas que não se devem negligenciar, e que agradam aos Espíritos sérios,
porque vêem nelas um objetivo sério.
Eis a conversa que tivemos com o Espírito de São Luís, a propósito da tabaqueira, e tendo em
vista chegar à solução do problema da produção de certos objetos no mundo invisível.
(Sociedade, 24 de junho de 1859.)
1. No relato da senhora R..., há a questão de uma criança que viu, junto ao leito de sua mãe,
um homem fumando num grande cachimbo. Concebe-se que esse Espírito poderia tomar a
aparência de um fumante, mas parece que ele fumava realmente, uma vez que a criança viu
o quarto cheio de fumaça. Que era essa fumaça? - R. Uma aparência produzida pela criança
2. A senhora R..., cita igualmente um caso de aparição, que lhe foi pessoal, do Espírito de
uma pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira e portava-a. Experimentava a sensação
que se tem pegando-a? - R. Não.
3. Essa tabaqueira tinha a forma da que se serve habitualmente e que estava em sua casa.
Que era essa tabaqueira entre as mãos desse Espírito? - R. Sempre aparência; foi porque a
circunstância fez notar como ela era, e que a aparição não foi tomada por uma alucinação
produzida pelo estado de saúde do vidente. O Espírito queria que essa senhora cresse na .
realidade de sua presença; tomou todas as aparências da realidade.
4. Dissestes que foi uma aparência; mas uma aparência nada tem de real, é como uma ilusão
de ótica Eu queria saber se essa tabaqueira não era senão uma imagem sem realidade, como
aquela, por exemplo, de um objeto que se faz refletir numa vidraça?
(O senhor Sanson, um dos membros da Sociedade observou que, na imagem reproduzida
pelo espelho, há alguma coisa de real; se ela ali não está, é porque ninguém a fixa; mas se
ela se põe sobre a placa de daguerreotipia, aí deixa uma impressão, prova evidente que é
produzida por uma substância qualquer, e que não é só uma ilusão de ótica.)
A observação do senhor Sanson é perfeitamente justa. Poderíeis ter a bondade de nos dizer
se há alguma analogia com a tabaqueira quer dizer, se nessa tabaqueira há alguma coisa de
material? - R. Certamente; é com a ajuda desse princípio material que o perispírito toma a
aparência de vestimentas semelhantes àquelas que o Espírito usava em sua vida.
Nota. - Evidentemente, é necessário entender aqui a palavra aparência, no sentido de
imagem, imitação. A tabaqueira real não estava ali; a que o Espírito portava não era senão a
reprodução: Era, pois, uma aparência comparada à original, embora formada de um princípio
material.
A experiência nos ensina que não é necessário tomar ao pé da letra certas expressões
empregadas pelos Espíritos; interpretando-as segundo as nossas idéias, nos expomos a
grandes equívocos, por isso é necessário aprofundar o sentido de suas palavras todas as
vezes que apresentem a menor ambigüidade; é uma recomendação que nos fazem
constantemente os Espíritos. Sem a explicação que provocamos, a palavra aparência,
constantemente reproduzida em casos análogos, poderia dar lugar a uma falsa interpretação.
5. É que a matéria inerte se desdobraria? Haveria no mundo invisível uma matéria essencial
que revestisse a forma dos objetos que vemos? Em uma palavra, esses objetos teriam seu
duplo etéreo no mundo invisível, como os homens aí são representados em Espírito?
Nota. - Está aí uma teoria como uma outra, e era o nosso pensamento; mas o Espírito não a
levou em conta, do que não estamos em nada humilhado, porque sua explicação nos pareceu
muito lógica e porque ela repousa sobre um princípio mais geral, do qual encontramos muitas
explicações.
- R. Não é assim que se passa. O Espírito tem sobre os elementos materiais espalhados por
todo o espaço, em nossa atmosfera, um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode, à sua
vontade, concentrar esses elementos e dar-lhes a forma aparente própria desses objetos.
6. Coloco de novo a pergunta de um modo categórico, a fim de evitar qualquer equívoco: As
vestimentas, com as quais se cobrem os Espíritos, são alguma coisa? - R. Parece-me que
minha resposta precedente resolveu a questão. Não sabeis que o próprio perispírito é alguma
coisa?
7. Resulta dessa explicação que os Espíritos fazem a matéria etérea sofrer transformações à
sua vontade, e que, assim, por exemplo, para a tabaqueira, o Espírito não a encontrou toda
feita, mas que a fez, ele mesmo para o momento no qual lhe era necessária, e que pôde
desfazê-la; deve ocorrer o mesmo com todos os outros objetos, tais como vestimentas, jóias,
etc. - R. Mas evidentemente.
8. Essa tabaqueira esteve visível para a senhora R... ao ponto de fazer-lhe ilusão. O Espírito
poderia torná-la tangível para ela? -R. Poderia.
9. Na ocasião que foi apresentada, a senhora R... poderia tomá-la em suas mãos, crendo ter
uma tabaqueira verdadeira? - R. Sim.
10. Se ela a tivesse aberto, teria provavelmente encontrado tabaco; se tomasse esse tabaco,
fá-la-ia espirrar? - R. Sim.
11. O Espírito pode dar, portanto, não só a forma, mas propriedades especiais? - R. Se o
quiser; não foi senão em virtude desse princípio que respondi afirmativamente às questões
precedentes. Tendes provas do poder de ação que o Espírito exerce sobre a matéria, que
estais longe de supor, como já vos disse.
12. Suponhamos, então, que ele quisesse fazer uma substância venenosa e que uma pessoa
a tomasse, seria ela envenenada? - R. Poderia, mas não o teria feito; isso não lhe seria
permitido.
13. Teria o poder de fazer uma substância salutar e própria a curar em caso de doença, e o
caso se apresentou? - R. Sim, muito freqüentemente.
Nota. - Encontrar-se-á um fato desse gênero, seguido de uma interessante explicação
teórica, no artigo que publicamos adiante sobre o título de Um Espírito servidor.
14. Poderia assim também fazer uma substância alimentar; suponhamos que fizesse uma
fruta, uma iguaria qualquer, alguém poderia comê-la e sentir-se saciado? - R. Sim, sim. Mas
não procureis, pois, tanto para provar o que é fácil de compreender. Basta um raio de sol
para tornar perceptíveis, aos vossos olhos grosseiros, essas partículas materiais que
encobrem o espaço no meio do qual viveis; não sabeis que o ar contém vapores d'água?
Condensai-os, e conduzi-lo-eis ao estado normal; privai-os de calor, e eis que as moléculas
impalpáveis e invisíveis tornam-se um corpo sólido e muito sólido, e muitas outras matérias
das quais os químicos vos tirarão maravilhas mais admiráveis ainda; somente o Espírito
possui instrumentos mais perfeitos do que os vossos: sua vontade e a permissão de Deus.
Nota. - A questão da saciedade é aqui muito importante. Como uma substância que não tem
senão uma existência e propriedades temporárias, e de alguma sorte de convenção, pode
produzir a saciedade? Essa substância, pelo seu contato com o estômago, produz a sensação
da saciedade, mas não a saciedade resultante da plenitude. Se uma tal substância pode agir
sobre a economia e modificar um estado mórbido, ela pode tão bem agir sobre o estômago e
produzir o sentimento da saciedade. Todavia, pedimos aos senhores farmacêuticos e
restauradores para não conceberem ciúme nisso, nem crerem que os Espíritos venham fazerlhes
concorrência: Esses casos são raros, excepcionais, e não dependem jamais da vontade;
de outro modo, nutrir-se-ia e curar-se-ia por muito bom preço.
15. O Espírito poderia, do mesmo modo, fazer a moeda? - R. Pela mesma razão.
16. Esses objetos, tomados tangíveis pela vontade dos Espíritos, poderiam ter um caráter de
permanência e de estabilidade? - R. Poderiam, mas isto não se faz; está fora das leis.
17. Todos os Espíritos têm esse poder no mesmo grau? - R. Não, não!
18. Quais são aqueles que têm, mais particularmente, esse poder? - R. Aqueles aos quais
Deus o concede quando é útil.
19. A elevação do Espírito nisso é alguma coisa? - R. É certo que quanto mais o Espírito é
elevado, mais facilmente a obtém; mas ainda isso depende das circunstâncias: Espíritos
inferiores podem ter esse poder.
20. A produção de objetos semi-materiais é sempre o fato de um ato de vontade de um
Espírito, ou bem exerce, algumas vezes, esse poder com o seu desconhecimento? - R. Ele o
exerce FREQÜENTEMENTE com o seu desconhecimento.
21. Esse poder seria, então, um dos atributos, uma das faculdades inerentes à própria
natureza do Espíritos; seria, de alguma sorte, uma de suas propriedades, como a de ver e de
ouvir? - R. Certamente; mas, freqüentemente, ele mesmo a ignora. É então que um outro a
exerce para ele, com o seu desconhecimento, quando as circunstâncias o pedem. O alfaiate
do zuavo era justamente o Espírito do qual acabo de falar, e ao qual ele fez alusão em sua
linguagem alegre.
Nota. - Encontramos uma comparação dessa faculdade nas de certos animais, a raia-elétrica,
por exemplo, que liberta eletricidade sem saber nem o que faz, nem o como o faz e que
conhece menos ainda o mecanismo que ela faz funcionar. Não produzimos, freqüentemente,
nós mesmos, certos efeitos por atos espontâneos dos quais não nos damos conta? Parecenos,
portanto, muito natural que o Espírito agisse nessa circunstância por uma espécie de
instinto; produz por sua vontade, sem saber como, como nós caminhamos sem calcularmos
as forças que colocamos em jogo.
22. Concebemos que, nos dois casos citados pela senhora R..., um dos dois Espíritos quisera
ter um cachimbo e o outro uma tabaqueira para impressionar os olhos de uma pessoa viva;
mas pergunto se, não tendo nada para mostrar-lhe, o Espírito poderia crer ter esses objetos,
e iludir-se a si mesmo? - R. Não, se ele tem uma certa superioridade, porque tem a perfeita
consciência do que é; mas ocorre de outro modo para os Espíritos inferiores.
Nota. - Tal era por exemplo a rainha de Oude, cuja evocação foi narrada no número de março
de 1858, e que se acreditava ainda coberta de diamantes.
23. Dois Espíritos podem se reconhecer entre si pela aparência material que tiveram quando
vivos? - R. Não é por causa disso que se reconhecem, uma vez que não tomem essa
aparência um para o outro; mas se, em certas circunstâncias, se encontram em presença,
revestidos dessa aparência, por que não se reconheceriam?
24. Como podem os Espíritos se reconhecerem na multidão dos outros Espíritos, e como,
sobretudo, podem fazê-lo quando um deles vai procurar ao longe, e, a miúdo, em outros
mundos, aquele que se chama? - R. Esta é uma questão cuja solução se arrastaria para
muito longe; é necessário esperar; não estais bastante avançados; contentai-vos, para o
momento, com a certeza de que assim é, e tendes disso bastante provas.
25. Se o Espírito pode haurir no elemento universal os materiais para fazer todas essas
coisas, dar a essas coisas uma realidade temporária com suas propriedades, pode muito bem
ali haurir o que é necessário para escrever, e, conseqüentemente, isso parece dar-nos a
chave do fenômenos da escrita direta? - R. Enfim, aí chegas-tes!
26. Se a matéria, da qual o Espírito se serve, não tem persistência, como ocorre que os
traços da escrita direta não desaparecem? - R. Não concluais sobre as palavras; eu não disse
no início: jamais; era questão de um objeto material volumoso; aqui, são sinais traçados que
é útil conservar, e são conservados.
A teoria acima assim pode se resumir o Espírito age sobre a matéria; haure na matéria
primitiva universal os elementos necessários para formar, à sua vontade, objetos com
aparência de diversos corpos que existem na Terra, ele pode igualmente operar sobre a
matéria elementar, por sua vontade, uma transformação íntima que lhe dá propriedades
determinadas. Essa faculdade é inerente à natureza do Espírito, que a exerce,
freqüentemente, como um ato instintivo quando isso é necessário, e sem se dar conta dele.
Os objetos formados pelo Espírito têm uma existência temporária, subordinada à sua vontade
ou à necessidade; podem fazê-los e desfazê-los à sua vontade. Esses objetos podem, em
certos casos, terem, aos olhos das pessoas vivas, todas as aparências da realidade, quer
dizer, tornarem-se momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Há formação, mas não
criação, tendo em vista que o Espírito nada pode tirar do nada.

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