07 março 2012

Obras Espíritas




Trechos da entrevista de Divaldo Franco, do livro Conversando com Divaldo Pereira Franco, editado pela Federação Espírita do Paraná sobre as obras espíritas.


*FEP: O movimento espírita tem sido invadido por uma enxurrada de

publicações que trazem a informação de serem mediúnicas. Temos visto que os
dirigentes, vários deles, não utilizam qualquer critério de seleção
doutrinária. O que nos aconselha?*



* Divaldo:* "O nosso pudor em torno do Index Expurgatorius da Igreja
Romana leva-nos, sem nos darmos conta, a uma tolerância conivente. 
Como não 
nos é lícito estabelecer um mapa de obras que mereçam ser estudadas em
detrimento daquelas que trazem informações inautênticas em torno dos
postulados espíritas, muitos dirigentes, inadvertidamente, divulgam obras
que prejudicam mais a compreensão do Espiritismo do que aclaram.



É muito comum dizer: mas é muito boa! Mas, muito boa, porém não uma obra
espírita e no que diz respeito à mediunidade, a mediunidade ficou tão
barateada, tão vulgarizada, que perdeu aquele critério com que Allan Kardec
a estuda em “O Livro dos Médiuns”.



O médium é médium desde o berço. Os fenômenos nos médiuns ostensivos
começam na infância e quando têm a felicidade de receber a diretriz da
Doutrina, torna-se o que Chico Xavier denominava com muita beleza:
mediunidade com Jesus. O que equivaleria dizer: a mediunidade ética, a
mediunidade responsável, criteriosa, a mediunidade que não se permite os
desvios do momento, os modismos.



Mas a mediunidade natural pode surgir em qualquer época e ela surge como
inspiração. O indivíduo pode cultivá-la, desenvolve-la naturalmente.



Vem ocorrendo uma coisa muito curiosa, pela qual, alguns espíritas
desavisados, de alguma maneira, são responsáveis: se o livro é de um autor
encarnado, não se lê, porque como se ele não tivesse autoridade de expender
conceitos em torno da Doutrina. Mas, se é um livro mediúnico, ele traz um
tipo de mística, de uma chancela, e as pessoas logo acham que é o máximo.
Adotam esse livro como um Vade Mecum, trazendo coisas que chocam porque vão
de encontro aos postulados básicos do espiritismo.



Entra agora uma coisa que é profundamente perturbadora: o interesse
comercial. Vender o livro sob a justificativa de que as Casas Espíritas
necessitam de recursos. Para atender as necessidades, vendem obras de
autoajuda, de esoterismo, de outras doutrinas, quando deveríamos cuidar de
divulgar as obras do Espiritismo, tendo um critério de coerência.



Quando visitei Paris pela primeira vez, em 1967, eu fui ver e conhecer a
Union Spirite Française que ficava na Rua Copernique, número 8. Era período
de férias, agosto a setembro, praticamente a Europa fecha-se e a França,
principalmente. A Union estava fechada. Chamou-me a atenção as vitrinas que
exibiam obras: não tinha uma espírita. Eram obras esotéricas, eram obras
hinduístas, eram obras de Madame Blavatsky. São todas respeitáveis, mas não
temos compromisso com elas. O nosso compromisso é com Jesus e com Kardec,
sem nenhum fanatismo e sem nenhuma restrição pelas outras obras, que
consideramos valiosas para cultura, para ampliação do entendimento. Mas,
temos que optar por conhecer a Doutrina que professamos.



Verificamos, neste momento, essa enxurrada perniciosa, porque saem mais de
cinqüenta títulos de obras pseudomediúnicas por mês, pelo menos que nos
chegam através dos catálogos, tornando-se impossíveis de serem lidas. O que
ocorre? Eu recebo entre 10 e 20 solicitações mensais, pedindo aos Espíritos
prefácios para obras que ainda estão sendo elaboradas. A pressa desses
indivíduos de projetar a imagem, de entrarem nesse pódium do sucesso é tão
grande que ainda não terminaram de psicografar - quando é psicográfica - ou
de transcrevê-la, quando é inspirada, ou de escrevê-la, quando é de próprio
punho, de própria concepção, já preocupado com o prefácio. Eu lhes digo:
Bom, aos Espíritos eu não faço solicitações. Peço desculpas por não poder
mandar o prefácio desejado. Espere, pelo menos, concluir o trabalho. Pode
ser que eu morra, pode ser que você morra e pode ser que o Guia reencarne
antes de terminar a obra.



É uma onda de perturbação para minar-nos por dentro. O Codificador nos
recorda que os piores inimigos estão no próprio Movimento, o que torna
muito difícil a chamada seleção natural. Nós deveremos ter muito cuidado ao
examinar esses livros. Penso que as instituições deveriam ter uma comissão
para lê-los, avaliar a sua qualidade e divulgá-los ou não, porquanto as
pessoas incautas ou desconhecedoras do Espiritismo fascinam-se com ideias
verdadeiramente absurdas.



Tenho ouvido e visto declarações pessoais de médiuns que dizem não serem
espíritas e não terem nenhum vínculo com qualquer “ismo”; são livres
atiradores e as suas obras são vendidas nos Centros Espíritas, porque
vendem muito. Até amigos muito queridos têm, em suas livrarias, nos Centros
Espíritas que frequentam, essas obras que são romances interessantes, como
os antigos romances de Agatha Christie, de M. Dellyt e tais. Mas essas
obras não são espíritas, embora ditadas por um Espírito, mas ditadas ao
computador.



Essas obras são muito interessantes, ninguém contesta, mas o tempo que se
gasta, lendo-as, é um desvio do tempo de aprendizagem da Doutrina Espírita.
As pessoas ficam sempre à margem, não se aprofundam. Observo, em nossa
Instituição, pelas perguntas infantis que me fazem.


É necessário que procuremos divulgar a Doutrina, conforme nós a herdamos
do ínclito Codificador e das entidades venerandas, que preservaram essa
Doutrina extraordinária, para que nós possamos contribuir com a construção
de um mundo melhor.



A respeito desses livros que proliferam, me causam surpresa, quando amigos
com quarenta, cinqüenta anos de idade, pessoas lúcidas, pessoas cultas, que
nunca foram médiuns, ou, pelo menos, jamais o disseram, escrevem livros até
ingênuos, que nem são bons nem são maus, e rotulam como mediúnicos e passam
a vender, porque são mediúnicos.



Realmente, a questão deve ser muito bem estudada, inclusive, penso, que
pelo Conselho Federativo Nacional para se tomar uma providência. Não de
cercear-se a liberdade — não temos esse direito, mas pelo menos de
esclarecer os leitores e procurar demonstrar quais são as características
de uma obra espírita e as características de uma obra imaginativa.



Um dos livros mais vendidos, dito mediúnico, tem verdadeiras aberrações,
em que a entidade fez do mundo espiritual uma cópia do mundo físico, ao
invés de o mundo físico ser uma cópia do mundo espiritual. Inverteu, porque
o Espírito está tão físico no mundo espiritual! E um Espírito do sexo
feminino, que tem os fluxos catamênicos no mundo espiritual e que vai ao
banheiro e dá descarga!



Outras obras, igualmente muito graves, falam de relacionamentos sexuais
para promoverem reencarnação no Além. Ora, a palavra reencarnação já
caracteriza tomar um corpo de carne. Como reencarnar no Além, no mundo de
energia, de fluidos, onde não existe a carne? O Além, com ninhos de
passarinhos multiplicando-se, em que as aves vêm, chocam e nascem os
filhotinhos. Não é que estejamos contra qualquer coisa, mas é que são
delírios, pura fascinação.



Acredito que alguns desses médiuns são médiuns autênticos. Ocorre que eles
não perderam a mediunidade, a sua faculdade mediúnica é que mudou de mãos,
daquelas entidades respeitáveis para as entidades frívolas que estão
criando verdadeiros embaraços, porque em determinados seminários,
palestras, fazem perguntas diretas e ficamos numa situação delicada, porque
citam os nomes. Toda vez que dizem os nomes eu me recuso responder. Numa
pergunta em tese muito bem, mas declinar nomes, não. Não tenho esse direito
de levar alguém ao escárnio.



Dessa forma, o problema é mais grave do que parece, porque muitos também
estão fazendo disso profissão, embolsam o resultado das vendas. Enquanto
outros justificam obras de má qualidade, por terem um objetivo nobre:
ajudar obras de assistência social. Os meios não justificam os fins."

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