22 agosto 2012

Conseqüências do Espiritismo

 

- Em face da incerteza das revelações feitas pelos Espíritos, pergunta-se: para que pode servir o estudo do Espiritismo?

Ele serve para provar materialmente a existência do mundo espiritual. O mundo espiritual estando formado pelas almas daqueles que viveram, disso resulta a prova da existência da alma e da sua sobrevivência ao corpo.

As almas que se manifestam, revelam suas alegrias e seus sofrimentos segundo a maneira que empregaram a vida terrestre; disso resulta a prova das penas e das recompensas futuras.

As almas, ou Espíritos, descrevendo seu estado e sua situação, corrigem as idéias falsas que se fazia sobre a vida futura e, principalmente, sobre a natureza e a duração das penas.

A vida futura passando, assim, do estado de teoria vaga e incerta ao estado de fato consumado e positivo, disso resulta a necessidade de trabalhar, o mais possível, durante a vida presente, que é de curta duração, em proveito da vida futura, que é indefinida.

Suponhamos que um homem de vinte anos tenha a certeza de morrer aos vinte e cinco; que fará durante esses cinco anos? trabalhará para o futuro? seguramente não. Ele se esforçará em gozar o mais possível e consideraria um logro se impor fadiga e privações sem objetivo. Mas, se ele tivesse a certeza de viver até os oitenta anos, agiria de outro modo, porque compreenderia a necessidade de sacrificar alguns instantes do repouso presente para assegurar o repouso futuro durante muitos anos. Ocorre o mesmo com aquele para quem a vida futura é uma certeza.

A dúvida com relação à vida futura conduz, naturalmente, a tudo sacrificar aos gozos do presente; daí a importância excessiva atribuída aos bens materiais.

A importância atribuída aos bens materiais excita a cobiça, a inveja, o ciúme daquele que tem pouco contra aquele que tem muito. Da cobiça ao desejo de se obter a todo custo o que possui seu vizinho, há apenas um passo; daí os ódios, as disputas, os processos, as guerras e todos os males engendrados pelo egoísmo.

Com a dúvida sobre o futuro, o homem, oprimido nesta vida pelos desgostos e pelo infortúnio, não vê senão na morte o fim dos seus sofrimentos; nada mais esperando, ele acha racional abreviá-los pelo suicídio.

Sem esperança no futuro, é muito natural que o homem se afete, se desespere diante das decepções que experimenta. As agitações violentas que delas recebe produzem em seu cérebro um abalo, causa da maioria dos casos de loucura.

Sem a vida futura, a vida presente é para o homem a coisa capital, o único objeto de suas preocupações, e a ela tudo relaciona. Por isso, quer a qualquer preço gozar, não somente dos bens materiais, mas de honrarias; aspira a brilhar, a se elevar acima dos outros, a eclipsar seus vizinhos por seu fausto e sua posição; daí a ambição desenfreada e a importância que dá aos títulos e a todas as futilidades da vaidade, pelas quais ele sacrificaria até sua própria honra, porque não vê nada além.

A certeza da vida futura e suas conseqüências muda totalmente a ordem das idéias e faz ver as coisas sob nova luz; é um véu levantado que descobre um horizonte imenso e esplêndido. Diante do infinito e da grandiosidade da vida de além-túmulo, a vida terrestre se apaga, como um segundo diante dos séculos, como o grão de areia diante da montanha. Tudo aí torna-se pequeno, mesquinho, e espanta-se da importância que se deu a coisas tão efêmeras e tão pueris. Daí, nos acontecimentos da vida, uma calma, uma tranqüilidade, que já é felicidade em comparação com as balbúrdias, os tormentos que nos impomos para nos elevarmos acima dos outros; daí também, para as vicissitudes e as decepções, uma indiferença mesmo que, tirando toda presa ao desespero, afasta os mais numerosos casos de loucura e desvia o pensamento do suicídio. Com a certeza do futuro o homem espera e se resigna; com a dúvida, ele perde a paciência, porque não espera nada do presente.

O exemplo daqueles que viveram, prova que a soma da felicidade futura está em razão do progresso moral alcançado e do bem que se fez sobre a Terra; que a soma da infelicidade está em razão da soma dos vícios e das más ações, resultando disso em todos aqueles que estão bem convencidos dessa verdade, uma tendência toda natural a fazer o bem e a evitar o mal.

Quando a maioria dos homens estiver imbuída dessa idéia, quando professar esses princípios e praticar o bem, disso resultará que o bem se imporá sobre o mal neste mundo; que os homens não procurarão mais se prejudicarem mutuamente; que eles regularão suas instituições sociais para o bem de todos, e não em proveito de alguns; em uma palavra, compreenderão que a lei da caridade ensinada pelo Cristo é a fonte da felicidade, mesmo neste mundo, e basearão suas leis civis sobre a lei da caridade.

A constatação do mundo espiritual que nos cerca, e de sua ação sobre o mundo corporal, é a revelação de uma das potências da Natureza e, por conseguinte, a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos, tanto na ordem física como na ordem moral.

Quando a Ciência tiver se inteirado desta nova força, desconhecida para ela até este dia, retificará uma multidão de erros provenientes do fato de atribuir tudo a uma causa única: a matéria. O reconhecimento desta nova causa nos fenômenos da Natureza, será uma alavanca para o progresso, e produzirá o efeito da descoberta de um agente todo novo.

Com a ajuda da lei espírita, o horizonte da Ciência se alargará, como se alargou com a ajuda da lei da gravitação.

Quando os sábios, do alto de sua cátedra, proclamarem a existência do mundo espiritual e sua ação nos fenômenos da vida, infiltrarão na juventude o contra-peso das idéias materialistas, ao invés de predispô-la à negação do futuro.

Nas lições de filosofia clássica, os professores ensinam a existência da alma e seus atributos segundo as diferentes escolas, mas sem provas materiais. Não é estranho que agora, que essas provas chegaram, elas sejam repelidas e tratadas de supersticiosas por esses mesmos professores? Não é dizer aos seus alunos: nós vos ensinamos a existência da alma, mas nada a prova? Quando um sábio emite uma hipótese sobre uma questão científica, ele procura com zelo, acolhe com alegria, os fatos que podem fazer dessa hipótese uma verdade; como um professor de filosofia, cujo dever é provar aos seus alunos que eles têm uma alma, trata com desdém os meios de lhes dar uma demonstração patente?

- Suponhamos, pois, que os Espíritos sejam incapazes de nada nos ensinar que nós já não o saibamos, ou que não podemos saber por nós mesmos, vê-se que a só constatação da existência do mundo espiritual conduz, forçosamente, a uma revolução nas idéias. Ora, uma revolução nas idéias leva, forçosamente, a uma revolução na ordem das coisas, e é essa revolução que o Espiritismo prepara.

- Mas os Espíritos fazem mais que isso; se suas revelações são cercadas de certas dificuldades e exigem minuciosas precauções para lhes constatar a exatidão, não e menos verdadeiro que os Espíritos esclarecidos, quando se sabe interrogá-los, e quando isso lhes é permitido, podem nos revelar fatos ignorados, nos dar explicações de coisas incompreendidas, e nos colocar sobre a senda de um progresso mais rápido. É nisso, sobretudo, que o estudo completo e atento da ciência espírita é indispensável, a fim de não lhe pedir o que ela não pode dar; é ultrapassando os limites que se expõe a ser enganado.

- As menores causas podem produzir os maiores efeitos; é assim que, de um pequeno grão pode

sair uma árvore imensa; que a queda de uma maçã fez descobrir a lei que rege os mundos; que as rãs saltando num prato revelaram a força galvânica; foi também assim, que do vulgar fenômeno das mesas girantes saiu a prova do mundo invisível, e dessa prova uma doutrina que, em alguns anos, deu a volta ao mundo, e pode regenerá-lo pela só constatação da realidade da vida futura.

- O Espiritismo ensina pouco quanto a verdades absolutamente novas, em virtude do axioma de que nada há de novo sob o Sol. Não há verdades absolutas senão aquelas que são eternas; as que o Espiritismo ensina, estando fundadas sobre as leis da Natureza, existiram de todos os tempos; por isso delas se encontram os germes que um estudo mais completo e observações mais atentas têm desenvolvido. As verdades ensinadas pelo Espiritismo são, pois, antes conseqüências que descobertas.

O Espiritismo não descobriu nem inventou os Espíritos, nem descobriu o mundo espiritual, no qual se acreditou em todos os tempos; somente ele o prova por fatos materiais e o mostra sob sua verdadeira luz, livrando-o dos preconceitos e das idéias supersticiosas que engendram a dúvida e a incredulidade.

Nota: Estas explicações, embora incompletas, bastam para mostrar a base sobre a qual repousa o Espiritismo, o caráter das manifestações e o grau de confiança que elas podem inspirar segundo as circunstâncias.

Allan Kardec
Livro: O QUE É O ESPIRITISMO

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