07 setembro 2011

GRANDEZA DA RENÚNCIA.


Alberto Dürer, o excelente pintor alemão, antes de notabilizar-se, necessitando de estudar, combinou com um jovem amigo, igualmente artista, sobre a necessidade de se transladarem para um núcleo de maior cultura no qual aprimorariam o estilo. Para tanto, porque não dispusessem de um Mecenas que os ajudasse, um trabalharia na faina rude de lavador de pratos, enquanto o outro pintava, de modo que, com a venda dos primeiros quadros, o que trabalhava passaria a estudar. Estabelecidas as bases do cometimento, os dois amigos deram início ao labor, afirmando Alberto: – “Eu me dedicarei ao trabalho”, pelo que o outro respondeu: –“Eu sou mais velho e já tenho emprego no restaurante”, Aquiescendo com o amigo, Dürer começou a estudar e a pintar. Quando reuniram uma soma que permitia que o outro estudasse, o mesmo largou o trabalho e dirigiu-se à Escola. percebeu, porém, que a atividade rude destruíra-lhe a sensibilidade táctil, desequilibrara-lhe o ritmo motor, dando-se conta de que nunca atingiria a genialidade, ainda mais, descobrindo a qualidade superior do amigo. Dotado de sentimentos nobres renunciou à carreira e prosseguiu trabalhando. Numa noite em que Dürer retornou ao estúdio, ao abrir silenciosamente a porta, estacou na sombra, vendo pela clarabóia do teto o reflexo do luar que se adentrava, iluminando duas mãos postas em atitude de prece. Era o amigo, ajoelhado, que rogava bênçãos para o companheiro triunfar na pintura. O artista, comovido ante a cena, imortalizou-a numa pequena tela, que passou à posteridade no “Estudo para as mãos de um apóstolo”, para o altar de Heller, hoje na Albertina, em Viena. A renúncia é a emoção dos Espíritos Superiores transformada em bênçãos pelo caminho dos homens. Quem renuncia estabelece para o próximo a diretriz do futuro em clima de paz. A renúncia é melhor para quem a oferta. Poder ceder, quando é fácil disputar; reconhecer o valor de outrem, quando se lhe está ao lado, ensejando-lhe oportunidade de crescimento; ajudar sem competir, são expressões elevadas da renúncia que dá à vida um sentido de significativa grandeza. O caminho, hoje juncado de cardos, de abrolhos, é o mesmo trilho abençoado e livre que ontem foi percorrido com egoísmo. A senda, de passagem difícil, é fruto do esquecimento a que foi relegada por quem a percorreu. Retornam sempre os pés andarilhos pelo roteiro já conhecido como os astros, no seu périplo no infinito, volvem ao mesmo curso, obedecendo à matemática da gravidade universal. Felizes aqueles que hoje cedem para amanhã receber; os que compreendem que a verdadeira felicidade consiste em ajudar e passar, sem impor nem tomar. Quem renúncia, enfloresce a alma de paz, granjeando a gratidão da vida pelo que recebe. Jesus, renunciando ao sólio do Altíssimo, veio conviver conosco e suportar-nos. Reconhecendo a nossa pequenez, renunciou à Sua grandeza. Para fazer-se entender, renunciou à Sua sabedoria transcendental. Para nos amar, renunciou à tranqüilidade, sofrendo-nos. E renunciando à própria elevação, aguarda por nós.
 
 Divaldo Pereira Franco / Joanna de Ângelis / Livro: Receitas de Paz

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